📍Introdução

Se você acompanha a newsletter há algum tempo, sabe que eu venho repetindo uma frase como mantra: a medicina está mudando diante dos nossos olhos — e não vai esperar ninguém.

Recentemente, foi divulgado um report da CBInsights sobre Saúde Digital no primeiro trimestre de 2025. O relatório está no site da CB Insights.

O que está acontecendo no mundo da saúde digital?

Vamos aos fatos:

• 💰️ US$ 5,3 bilhões investidos em startups de saúde — alta de 47% em relação ao trimestre anterior.

• 🤖 60% desse dinheiro foi destinado a health techs com foco em inteligência artificial.

• 💣️ Os chamados mega-rounds (US$ 100M+) explodiram, representando quase metade de todo o volume investido.

• 🦄 Foram seis novos unicórnios, todos com IA no core do negócio — e um deles atingiu essa marca com apenas 21 funcionários (!).

• 🔄 M&As dispararam 27%, sinalizando que grandes players voltaram às compras, de olho em plataformas escaláveis com dados proprietários.

A Nova Ordem: Plataformas Cognitivas

A inteligência artificial não está mais apenas “ajudando” os médicos. Ela está redesenhando a cadeia de valor do setor de saúde.

Alguns dos principais negócios deste trimestre demonstram isso com clareza:

• Isomorphic Labs (Reino Unido) levantou US$ 600 milhões para usar IA na descoberta de novas moléculas, combinando biologia e aprendizado de máquina como poucas no mundo.

• Truveta (EUA) recebeu US$ 320 milhões para explorar dados clínicos anonimizados em escala populacional — e transformar essas informações em insights acionáveis.

• Abridge (EUA), com US$ 250 milhões, está redefinindo o prontuário médico ao automatizar a transcrição e sumarização de consultas com NLP.

• Hippocratic AI, por sua vez, busca automatizar o pós-consulta: agendamentos, educação do paciente e até triagens.

Esses casos mostram uma virada: o que antes era “saúde digital” virou “saúde computacional”. A medicina está se tornando uma ciência da informação — e quem não aprender a ler esse novo idioma terá dificuldades para se manter relevante.

Unicórnios com inteligência embutida

Ver seis novos unicórnios surgirem em um único trimestre é, por si só, um evento raro. Mas o mais impressionante é o perfil dessas empresas:

• São enxutas, com estrutura leve e foco total em algoritmos treinados com dados clínicos reais.

• Valem mais de US$ 1 bilhão, mesmo em estágios médios (Series B ou C).

• Muitas vezes, há poucos fundadores técnicos e parcerias estratégicas com grandes sistemas de saúde.

Destaque para a OpenEvidence, que oferece suporte à decisão clínica em tempo real. Com apenas 21 funcionários, atingiu o status de unicórnio ao oferecer uma solução baseada em LLMs que entende diretrizes, evidências científicas e contexto clínico — quase como um copiloto médico para o raciocínio diagnóstico.

Mapa do Investimento em 2025: Domínio Americano

Os Estados Unidos continuam sendo o centro gravitacional da saúde digital.

• Foram investidos US$ 3,4 bilhões do total global foram investidos por lá.

• Dos 11 mega-rounds do trimestre, 6 foram americanos.

• As duas maiores aquisições também vieram dos EUA: CentralReach (US$ 1,6 bilhões) e Alto Pharmacy (US$ 1,5 bilhões).

Europa e Ásia, apesar de terem players interessantes (como Neko Health na Suécia e Insilico Medicine na China), ainda apresentam menor tração em deals de grande porte — seja pela regulação mais rígida, seja por estruturas de capital menos agressivas.

👀 O que isso significa para nós, médicos e decisores?

Essa movimentação toda pode parecer distante para quem está no consultório, no hospital ou na gestão de clínicas. Mas vou te dizer exatamente por que não está.

1. As tecnologias que estão recebendo financiamento hoje serão as que baterão na sua porta amanhã.
   Seja por meio de um novo sistema de prontuário, uma startup buscando parceria ou um paciente que chega com dados de wearables que você ainda não sabe interpretar.

2. A IA está se tornando a linguagem operacional da saúde.
   Clínicas, hospitais e operadoras que não incorporarem fluxos baseados em IA (triagem, documentação e suporte à decisão) estarão em desvantagem competitiva.

3. A concentração de capital em poucas startups indica que o mercado busca escala, segurança regulatória e retorno.
   Ou seja: não há mais espaço para ideias genéricas. As soluções que crescem são aquelas com dados estruturados, interoperabilidade real e base científica robusta.

🔍 Minha análise

Este relatório confirma uma sensação que tenho há meses: a saúde está evoluindo de um estágio de experimentação para um de maturidade digital. A euforia de “temos uma IA para isso” deu lugar ao pragmatismo "Essa IA entrega resultado prático?”

E, ao que tudo indica, a resposta está cada vez mais próxima do sim.

Mas esse movimento também traz riscos: a polarização entre os que sabem usar a tecnologia e os que ainda não entenderam do que se trata.

Se você é médico e quer continuar relevante, o momento de agir é agora. Estude, teste, implemente aos poucos — mas não fique parado. A pior escolha nesse cenário é a inércia.

Porque, no novo mundo da medicina, não basta cuidar de vidas. É preciso compreender os códigos que moldam o futuro da nossa profissão.

Até a próxima edição.

 🤔 Para refletir…

Como você pretende se preparar para o momento em que os seus pacientes trouxerem informações e dados clínicos gerados por IA?

Sua clínica está realmente alinhada com o novo conceito de “saúde computacional”, ou está apenas digitalizando processos antigos?

Qual é a sua estratégia para se adaptar rapidamente à era das plataformas cognitivas?

 🤔 Para ouvir… (versão podcast - made with NotebookLM)